“Vais gostar de saber que também a nossa história começou com um desastre, mas no fim estávamos vivos. A minha mãe dizia que mesmo no pior dia há sempre qualquer coisa bonita. Quando a mãe da minha mãe morreu, não a conheceste, vi-a a usar os brincos de que mais gostava durante muito tempo. Encontrou nisso uma forma de salvar qualquer coisa. Ainda bem.
Antes de ser tua avó, que nunca chegou a ser, ou uma ausência também vive?, a minha mãe foi minha mãe e queria tudo em ordem. Os brincos eram pequenas bolas brilhantes de resgate dentro do naufrágio diário.”
SOBRE A AUTORA:
Marta Pais Oliveira (Porto, 1990) publicou em 2021 o seu primeiro romance, Escavadoras, vencedor do Prémio Literário Revelação Agustina Bessa-Luís. Seguiu-se o conto O homem na rotunda.
Publicou poemas em coletivos de poesia e colabora com textos em diversas publicações. Escreveu o libreto Maria Magola, levado à cena no Festival Informal de Ópera 2021. Tem dois umbigos: um no corpo e outro em umumbigo.wordpress.com.