Publicado em 1876, Helena é um romance do primeiro período de Machado de Assis, em que o próprio reconhece um excesso de romantismo trágico.
A protagonista é de origens humildes, sendo reconhecida em testamento como filha e herdeira do conselheiro Vale, um membro da elite do Rio de Janeiro.
Por isso, vai passar a viver na mansão da família, com a irmã do conselheiro Vale e Estácio, seu filho legítimo.
A relação entre Helena e Estácio transforma-se em paixão não assumida. Mas o segredo que Helena traz consigo permite um desfecho inesperado.
SOBRE O AUTOR:
Machado de Assis nasceu a 21 de Junho de 1839 no Rio de Janeiro, pouco se sabendo da sua infância e juventude. Em termos profissionais, foi primeiro tipógrafo e revisor de provas, depois burocrata subalterno, ocupando finalmente relevantes cargos administrativos.
Publicou o muito original Memórias Póstumas de Brás Cubas em 1880, quando era oficial da Secretaria de Estado do Ministério da Agricultura, Comércio e Obras Públicas.
Não poderia ser maior o contraste entre o funcionário aplicado e o autor de um livro em que o narrador se situa no túmulo, o que lhe permite um tom de céptica ironia e o reconhecimento das muitas fraquezas e das frágeis virtudes que fazem a condição humana. Contraste semelhante só o de Fernando Pessoa escrevendo o Livro do Desassossego enquanto exercia funções de correspondente comercial na Baixa lisboeta.
Neto pelo lado paterno de escravos negros libertos, filho de um pintor da construção civil e de uma lavadeira açoriana, Machado de Assis nunca foi, no entanto, um intruso no mundo literário do Rio de Janeiro, onde existiam oportunidades para um intelectual de talento, mesmo que mulato. Aliás, a sua relação com a sociedade da época nunca foi de crítica mordaz, mas de uma ironia em jeito de comédia de sentimentos. Como escreveu Harold Bloom em Génio: “E, no entanto, das suas Memórias Póstumas emana uma tranquilidade quase sobrenatural.”
Machado de Assis nasceu pobre, frágil de saúde, epiléptico e, a partir de dada altura, sofreu dos olhos, tendo mesmo de ditar seis capítulos de Memórias Póstumas à sua mulher. Mas aprendeu francês, inglês, alemão, latim, grego e russo. Deixou dezenas de obras em conto, romance, poesia, teatro e crónica, e ajudou a revolucionar a escrita de português com as suas elipses, ironia céptica, transformações gramaticais, uso de neologismos e multiplicação de perspectivas. Foi, com Eça e Camilo, um dos maiores escritores do século XIX em língua portuguesa.
A sua morte ocorreu a 29 de Setembro de 1908.