«Um calor terrível, o ar cem por cento saturado de humidade. Era como se toda a gigantesca cidade, com os seus prédios sobre-humanos, os parques maravilhosos, as pessoas e os cães multicores, tivesse chegado ao ponto de mudança de estado e, dentro em pouco, os corpos meio liquefeitos começassem a flutuar no caldo do ar.»
Em pleno Verão de 1991, num desarrumado estúdio de Nova Iorque, reúne-se um grupo de personagens dispostos a acompanhar Álik, um pintor judeu russo emigrado, nos últimos dias da sua vida. É talvez a morte anunciada mais divertida de toda a literatura, pois é, ao mesmo tempo, um hino à vida. Rodeado de amigos, antigas amantes e da vizinha Joyka, Álik deseja que a festa continue, enquanto Ninka, a sua mulher, pensa apenas em salvar-lhe a alma.
Há duas semanas que Álik voltou do hospital, dizendo aos médicos que prefere morrer em casa. Deitado num sofá, «tão pequeno e jovem como se fosse filho de si próprio», Álik discute pintura com a pequena Maika.
Entretanto, um padre ortodoxo e um rabino sucedem-se à cabeceira do moribundo e o encontro das duas crenças torna-se um episódio divertido, mostrando que, para Ulítskaia, as dúvidas metafísicas sobre a morte e a religião não são incompatíveis com o humor e a literatura.