Alexis é a confissão de um homem que deixa a sua mulher para assumir a sua homossexualidade.
No prefácio que escreveu décadas depois da saída do livro, Yourcenar afirma que foi publicado «num momento da literatura e dos costumes em que um tema até então marcado por interdito encontrava pela primeira vez, desde há séculos, a sua plena expressão escrita».
SOBRE A AUTORA:
Marguerite Yourcenar (quase um anagrama do seu apelido verdadeiro, Crayencour) nasceu a 8 de Junho de 1903 em Bruxelas. Escreveu romances como Memórias de Adriano e A Obra ao Negro, e várias novelas. Publicou poesia e traduziu Virginia Woolf, Kavafis, Henry James e espirituais negros. Foi ainda ensaísta e crítica.
Primeira mulher eleita para a Academia Francesa, em 1980, afirmou não conceder importância a tal distinção.
A sua infância foi invulgar. A mãe morreu quando ela tinha dez dias, sendo educada pela rígida avó paterna e pelo pai, ligado à aristocracia, um viajante inconformista que desempenhou um papel de relevo na sua formação pessoal e literária.
Marguerite Yourcenar passava os invernos em Lille e os verões, até aos 11 anos, na propriedade familiar em Mont Noir. Estudou em casa e o seu pouco memorável livro de poemas, Le Jardin des chimères, saiu em edição de autor quando tinha 18 anos.
Acompanhou o pai em viagens a Londres, durante a Primeira Guerra Mundial, à Suíça e a Itália, onde descobriram a Villa Adriana.
Em 1929 publicou o seu primeiro romance com um título de influência gideana, Alexis ou Tratado do Vão Combate, que é, com Fogos e O Golpe de Misericórdia, um dos seus raros textos que abordam temas da actualidade.
Depois da morte do pai, em 1929, Yourcenar decidiu gastar a herança numa vida de boémia, passada entre Paris, Lausanne, Atenas, as Ilhas Gregas, Constantinopla, o Cáucaso e Bruxelas.
Teve relações amorosas com algumas mulheres e apaixonou-se por um homossexual, André Fraigneau, escritor e editor da Grasset.
Foi nesse período que saíram os Contos Orientais, o fragmentário Fogos e a novela O Golpe de Misericórdia, baseada numa história que lhe foi contada por familiares dos protagonistas e que se desenrola durante a guerra russo-polaca de 1920.
Em 1939, o seu conhecimento da Alemanha nazi e a falta de recursos levaram-na a partir para os EUA, juntando-se a Grace Frick, sua companheira havia dois anos e com quem viveu até à morte desta, em 1979. Yourcenar tornou-se cidadã americana em 1947, tendo ensinado Literatura e História da Arte.
A partir de 1950, instalou-se com Grace na ilha de Montes Desertos, designando a sua casa em madeira por Petite Plaisance.
O que lhe permitiu deixar a sua actividade docente foi o êxito internacional de Memórias de Adriano (1951).
Durante o período que viveu em Northeast Harbor, na ilha de Montes Desertos, Yourcenar realizou diversas viagens, algumas longas, com o seu último secretário, Jerry Wilson (em meados dos anos 60 visitara Lisboa, Sintra, Évora e a Madeira).
Marguerite Yourcenar gostava de ser ao mesmo tempo reconhecida e quase inacessível. Era reservada e altiva, uma alma ardente e um pensamento exacto, com uma escrita capaz de iluminar a tragédia sem lhe dissipar por completo as sombras. Dominava o grego, que aprendeu com o pai, e o latim. Eram-lhe familiares muitos textos antigos.
A sua obra percorre variados registos, desde o inicial romance realista às obras passadas na Antiguidade ou no Renascimento, inscrevendo-se deliberadamente à margem das correntes dominantes, num estilo clássico que se demorava na sageza dos pensamentos. A filosofia greco-latina e os pensadores renascentistas influenciaram muito do que escreveu.
Faleceu a 17 de Dezembro de 1987. Está enterrada no Cemitério de Brookside, em Somesville, no Maine.