TRADUÇÃO, INTRODUÇÃO E NOTAS DE NUNO PINTO RIBEIRO
«A acção de Timão de Atenas oferece a imagem de um corpo descontínuo, quebrado em dois movimentos distintos, marcados pela inflexão operada na figura do herói, nos três primeiros actos a figura generosa e pródiga a distribuir afectos e benesses, nos dois últimos o misantropo impenitente e amargo, vituperando o mundo e os outros, impenetrável a qualquer sinal humano e à comunidade de que voluntariamente se exilou. (…)
A peça não seria uma tragédia, a isso não chegaria, quando muito seria um drama, dignificado pela presença do corajoso Alcibíades e do constante Flávio; mas para além disso essa atípica criação de Shakespeare não poderia aspirar a outra coisa que não à comédia.
A acção dramática abre com um diálogo entre personagens sem nome (a sugestão alegórica desenha-se bem cedo na peça), o Pintor e o Poeta, acto contínuo se lhes juntando o Joalheiro e o Mercador, todos à espera do generoso anfitrião, senhor de todas as virtudes, e o caudaloso movimento de notáveis testemunha eloquentemente a fama e respeito de que goza o nobre Timão.»
Da Introdução