«Quando, em 1925, Pablo Neruda escreveu “Madrigal escrito en invierno”, o poema mais antigo de Residencia en la tierra, tinha 21 anos (nascera em Parral, no Chile, em 1904); em 1923 publicara o primeiro livro, Crepusculario, e no ano seguinte outro que lhe deu notoriedade e tem mantido a fidelidade de muitos leitores, Veinte poemas de amor y una canción desesperada, traduzido por Fernando Assis Pacheco. (…)
No começo de 1933, em Santiago, saiu a primeira parte de Residencia en la tierra, designada pelas datas que a limitam (1925-1932). E em Agosto Neruda chegou a Buenos Aires para ocupar o posto de cônsul. Porém, acaso mais importante que isso foi ter conhecido aí, menos de dois meses após a chegada, Federico García Lorca, pois as relações que com ele estabeleceu devem ter sido decisivas para se deslocar para Barcelona em Maio de 1934, como cônsul, e sobretudo para trocar a capital catalã por Madrid (…).
Aliás, da segunda parte deste seu livro alguns poemas foram escritos em Espanha, podendo beneficiar com a lição do surrealismo que aí seguiam ou tinham seguido Lorca, Aleixandre, Alberti, Cernuda, para só citar poetas que conviveram com Neruda.
Essa libertação verbal presta-se para Neruda expressar os sentimentos excessivos, a natureza que é o cenário sobretudo interior de muitos poemas que escreveu no Oriente, onde se deslocou de país para país, de ilha para ilha, a inclemência dos climas que aí aguentou, a chuva e o calor brutais (como de frio, chuva, neve no Sul do seu Chile, nomeadamente em Temuco, onde residiu desde 1906 a 1921). (…)
Depois desta obra, a poesia de Neruda cresceu com uma abundância que talvez tenha surpreendido o poeta que demorou cerca de dez anos para escrever estes 56 poemas de Residencia en la tierra, para mim o melhor dos seus livros e uma pedra fundamental da poesia de língua espanhola da primeira metade do século XX.»
Do Prólogo