Prefácio de António Ramos Rosa
«A poesia de Mário de Sá-Carneiro, sobretudo nalguns poemas de Dispersão, possui um fulgor, uma força e um dinamismo únicos na lírica portuguesa contemporânea. Pode-se dizer que na sua obra há poemas que nascem de uma impulsão arrebatadora que domina inteiramente a consciência e o corpo, e para a qual a imaginação e a linguagem encontram imediatamente a síntese viva e fulgurante da realidade poética. Essa impulsão pode ser tão intensa e instantânea que se volve vertigem, delírio ou álcool (palavras-chave da poesia do autor de Indícios de Oiro) ou esvai-se, após o seu súbito surgir, ou então obscurece a consciência do sujeito: «Mas a vitória fulva esvai-se logo… / E cinzas, cinzas só, em vez de fogo…», «É só de mim que ando delirante — / Manhã tão forte que me anoiteceu.» Do Prefácio