«O cinema não pode ser o equivalente da carta de amor ou da música dos pobres. Já não pode ser a arte que simplesmente restitui aos humildes a riqueza sensível do seu mundo. É preciso que consinta ser apenas a superfície sobre a qual se traduza, por meio de figuras novas, a experiência daqueles que foram relegados para a margem das circulações económicas e das trajectórias sociais. É preciso que esta superfície acolha a cisão que separa o retrato do quadro, a crónica da tragédia, a reciprocidade da fractura. Uma arte tem de se substituir pela outra. A grandeza de Pedro Costa está em aceitar e recusar esta alteração em simultâneo, em fazer num só e mesmo movimento o cinema do possível e o do impossível.» [Jacques Rancière]
Este livro reúne os cinco artigos que Jacques Rancière dedicou ao cinema de Pedro Costa; as suas conversas com Cyril Neyrat à volta de momentos escolhidos dos filmes do cineasta; os debates públicos entre Jacques Rancière e Pedro Costa no Museu Reina Sofía de Madrid, no Instituto Francês de Barcelona e em Lille (ciclo de conferências CitéPhilo).
SOBRE OS AUTORES:
jacques rancière é professor honorário na Université de Paris VIII, onde leccionou de 1968 a 2000 no departamento de Filosofia. Ensinou também na European Graduate School e em diversas universidades americanas. O seu trabalho situa-se no cruzamento da política, da estética e dos estudos literários e cinematográficos. É autor, nomeadamente, de A Noite dos Proletários (1981), O Mestre Ignorante (1987), Estética e Política. A Partilha do Sensível (2000), A Fábula Cinematográfica (2001), O Destino das Imagens (2003), O Espectador Emancipado (2007), Aisthesis. Scènes du régime esthétique de l’art (2011) e As Margens da Ficção (2017).
cyril neyrat vive nas montanhas das Cevenas, em França, onde se dedica ao acolhimento de jovens adultos autistas e à escrita. É também membro da comissão de selecção do FIDMarseille. Os seus trabalhos incidem sobretudo nos autores da «modernidade europeia» (Rossellini, Pasolini, Godard, Pollet, Straub e Huillet) e dos seus herdeiros. É autor de livros construídos em torno de conversas com cineastas (Um Melro Dourado, Um Ramo de Flores, Uma Colher de Prata — No Quarto da Vanda. Conversa com Pedro Costa, 2008; Lancés à travers le vide. Sur La Vallée Close, de Jean-Claude Rousseau, 2009; Pierre Creton. Cultiver, habiter, filmer, 2010). Dirige com Joël Daire e Nicole Brenez a edição de Écrits complets de Jean Epstein e de Matériaux — Pedro Costa (2022) com Luc Chessel.
Tradução realizada com o apoio da SPA.