«Sherlock Holmes continua a viver em 221-B Baker Street, embora aqueles que procuram a casa não a encontrem e os que lhe escrevem ainda hoje raramente tenham resposta. Encostado à janela observa a rua mergulhada no nevoeiro. Acende o cachimbo cinzento (não o de cerejeira dos momentos de discussão) e senta-se na poltrona a meditar, toca violino, injecta uma solução de sete por cento de cocaína. E de tempos a tempos abre a gaveta da secretária onde está a fotografia de Irene Adler, a mulher mais bonita que conheceu. Para Holmes ela foi sempre “a” mulher. Talvez se lembre do último caso que resolveu, e daquele dia nas quedas de água de Reichenbach, e das noites em que, num sonho de Ellery Queen, percorreu as ruas imersas no nevoeiro à procura de Jack o Estripador; talvez pense no grande mistério, o que nem ele é capaz de resolver, a morte. E com um gesto lento tira uma rosa da jarra que Mrs. Hudson colocou na mesa de manhã. What a lovely thing a rose is. Porque em poucas coisas a arte de deduzir é tão necessária como na religião. A rosa.»
De «A rosa»
O Sentido da Neve reúne crónicas da autora reescritas para esta edição, além de dois novos textos.