PREFÁCIO DE BRUNO VIERA AMARAL
«Os temas desatualizam‑se, as tendências literárias saem de moda, os interesses dos leitores mudam, o mundo em que José Cardoso Pires viveu e escreveu já não é o nosso. O brilho da sua prosa, esse, mantém‑se intacto. Graças a esse brilho, as personagens inteiras que criou (ele que muito escreveu sobre amputados, físicos e espirituais) — veja‑se João Portela e o tio Aníbal que, daqui a umas páginas, há de o leitor encontrar a calcorrearem os caminhos secos e amaldiçoados do Alentejo — continuam vivas e a iluminar‑nos.» [Do Prefácio]
SOBRE O AUTOR:
José Cardoso Pires nasceu a 2 de Outubro de 1925 em São João do Peso, lugar de Vila de Rei, concelho de origem da família. No entanto, a sua vida desenvolveu-se sempre em Lisboa. Trocou Matemáticas Superiores por diversas profissões, tendo como objectivo tornar-se escritor. Iniciou cedo a sua colaboração na imprensa e no mundo editorial. Eclético nas influências, leal nas amizades e desalinhado de clubismos, cultivou relações nas artes e na música, tanto se dando com neo-realistas como com surrealistas. Em 1949, publicou Os Caminheiros e Outros Contos e, em 1952, Histórias de Amor, influenciado pelo neo-realismo, mas já com marcas distintivas. Em 1958, surge o seu primeiro romance, O Anjo Ancorado, e, em 1960, o ensaio Cartilha do Marialva e a peça de teatro O Render dos Heróis, encenada em 1965. Em 1963, surge O Hóspede de Job, iniciado em meados dos anos 50, que lhe valeu o Prémio Camilo Castelo Branco, da Sociedade Portuguesa de Escritores. O Delfim, publicado em 1968, evidencia já uma clara descolagem do neo-realismo. Em 2002, Fernando Lopes adaptou-o ao cinema. Em 1969, quando leccionou Literatura Portuguesa e Brasileira no King’s College de Londres, escreveu a sátira política Dinossauro Excelentíssimo, saída em 1972, com ilustrações de João Abel Manta. Nesse período, divulgou, em França, Inglaterra e Alemanha, “Técnica do Golpe de Censura”, denúncia do regime em vigor no país (só sairia em Portugal em 1977, em E agora, José?).
O 25 de Abril afastou-o da ficção — foi vereador da Câmara de Lisboa e director-adjunto do Diário de Lisboa e protagonizou o primeiro processo judicial de liberdade de imprensa. Em 1978, regressou ao King’s College. Ultimou a peça Corpo-Delito na Sala de Espelhos, encenada no ano seguinte, em Lisboa, pelo Teatro Aberto. Em 1979, publicou O Burro-em-Pé, contos ilustrados por Júlio Pomar. Balada da Praia dos Cães, de 1982, receberia o primeiro Grande Prémio de Romance e Novela da Associação Portuguesa de Escritores. O filme homónimo, de José Fonseca e Costa, saiu em 1987. Em 1985, publicou o seu último romance, Alexandra Alpha. Em 1988, voltou aos contos, em A República dos Corvos. Passou por vários problemas de saúde e só voltou a publicar em 1997: De Profundis, Valsa Lenta, relato de um tempo sem memória. Entre outros importantes prémios nacionais e internacionais, recebeu o Prémio Pessoa. Os seus últimos escritos foram Lisboa — Livro de Bordo e Viagem à Ilha de Satanás. Morreu a 26 de Outubro de 1998, em Lisboa.