«Os contornos vibrantes de corpos em repouso e em movimento… sim, mal os pronunciamos, já deles nos afastamos, como quem cai — e como dizer que corpos são estes? De flores e animais e raparigas nasceu uma essência do ser e um extremo de amor e sofrimento e suspensão e bem-aventurança, e basta um aceno de azul: e logo de todos os lados o espaço se precipita nestas páginas e envolve estas figuras com todas as distâncias e profundidades, embebendo-as e impelindo-as em nossa direcção, de tal modo que somos acometidos pela vertigem das grandes alturas e gostaríamos de segurar-nos à mão do mestre que com um gesto de dádiva gentil nos estende a folha…
Não, estes desenhos não são aquilo por que os tomam, esboços apressados, preliminares, passageiros; o momento, assim surpreendido na sua intangibilidade, assim submetido a todas as leis: o que o distingue ainda do definitivo e do eterno?»
Rilke, Sobre os desenhos de Rodin (1905)