«Assim, a temática do Cap. I centra-se na apreciação da diferença entre, por um lado, o modelo socrático-platónico da relação do mes- tre com o discípulo e, por outro lado, o modelo cristão da relação “do deus” com o “aprendiz”; mas, se procurarmos o conceito operativo específico deste capítulo, rapidamente compreenderemos que é a categoria de “instante” que, na sua oposição funcional com a noção de “ocasião”, determina o essencial da meditação aí levada a cabo. O Cap. II, por seu turno, tem por tema central a questão do amor do deus pelo homem; o conceito operativo específico deste capítulo encontra-se na “humilhação” que é capital para que este amor não seja um “amor infeliz”, ou seja, situa-se naquilo que motiva o facto de o deus descer na figura de um “servo” e que simultaneamente faz que perante este facto se esteja diante do “maravilhoso”. O Cap. III debruça-se sobre o tema do paradoxo, em especial da diferença entre o “paradoxo so- crático” (Sócrates faz todos os possíveis por co- nhecer a natureza humana, mas não está certo de saber quem é, em particular de saber se partilha do divino) e o “paradoxo absoluto” (que põe em jogo a “diferença absoluta” entre o deus e o homem, que é a “diferença absoluta do pe- cado”, e o anular desta diferença absoluta na “igualdade absoluta”).»
[Da Introdução de José Miranda Justo]10%