Irradiante, o negro

“Não sei. Também ouço falar do verde das árvores, e do azul do mar, e do ocre das falésias, e da cor de alguns olhos, não sei, talvez as trevas sejam afinal o negro-trevas, talvez, talvez nada…
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Categoria: Ficção Portuguesa
EAN: 9789897832147
Data de publicação: 20220222
Nº de páginas: 96
Formato: 15,3 x 23,3 cms
Acabamento: Capa Mole
Peso: 183 gramas
Descrição completa:

“Não sei. Também ouço falar do verde das árvores, e do azul do mar, e do ocre das falésias, e da cor de alguns olhos, não sei, talvez as trevas sejam afinal o negro-trevas, talvez, talvez nada escape ao negro, nem sequer as trevas, escapar aqui não é fugir, significa somente que tudo é, quando fechamos obstinadamente a boca imobilizamos cada negro no seu sítio, e ele torna-se espesso, afunda-se até ser o negro-espessura: cautela, não tropeces nele e caias, na verdade o que nos querem dizer é: fala, fala, para não te desequilibrares e caíres, olha um gato preto: murmura alguém a teu lado, e de súbito descobres que não há gatos negros, não há o negro-gato, há o preto-gato, e continuas a conversa interrompida: afinal alguma coisa escapou, o preto-gato é furtivo e mimético: confunde-se com o negro por onde passa, às vezes esconde-se nele, isto é, imobiliza-se e desaparece, ou será que cada negro alberga o seu preto-gato?”

SOBRE O AUTOR:
Rui Nunes nasceu em Lisboa. Licenciou-se em Filosofia na Universidade de Lisboa e é autor de uma obra em ruptura com as tradições narrativas da sua geração. De Rui Nunes a Relógio D’Água publicou Quem da Pátria Sai a Si Mesmo Escapa? (1983), Sauromaquia (1986), Osculatriz (1992), Álbum de Retratos (1993), Que Sinos Dobram por Aqueles Que Morrem como Gado (1995), Grito (1997) — Grande Prémio de Romance e Novela APE, Cães (1999), Rostos (2001) — Prémio da Crítica atribuído pelo Centro Português da Associação Internacional de Críticos Literários, A Boca na Cinza (2003), O Mensageiro Diferido (2004), O Choro É Um Lugar Incerto (2005), Ouve-Se sempre a Distância numa Voz (2006), Ofício de Vésperas (2007), Os Olhos de Himmler (2009), A Mão do Oleiro (2011), Barro (2012), Armadilha (2013), Uma Viagem no Outono (2013) — Prémio Nacional de Poesia Diógenes 2013 , Enredos (2014), Nocturno Europeu (2014) — Prémio Melhor Livro de Ficção Narrativa SPA/RTP 2015, A Crisálida (2016), Baixo Contínuo (2017), Suíte e Fúria (2018) e O Anjo Camponês (2020).

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