«Todos nós somos, por vezes, estúpidos; por vezes também, somos constrangidos a agir cegamente ou semicegamente, sem o que o mundo se deteria; e se alguém retirasse dos perigos da estupidez esta regra: “Abstém-te de julgar e de decidir cada vez que te faltam informações”, ficaríamos imobilizados! Mas essa situação hoje muito generalizada recorda outra que conhe- cemos há muito tempo, no domínio intelectual. Com efeito, como o nosso saber e o nosso poder são limitados, estamos reduzidos, em todas as ciências, a enunciar juízos prematuros; mas desde que estejamos atentos, como nos ensinaram, para manter esse defeito em certos limites e corrigindo-o logo que possível, isso restitui ao nosso trabalho uma certa exactidão. Nada, com efeito, se opõe à possibilidade de transferir para outros domínios esta exactidão e esta orgulhosa humildade do juízo e da acção; e eu acredito que o preceito: “Age tão bem como possas e tão mal como tem de ser, permanecendo consciente das margens de erro da tua acção!” representa já, no caso de ser seguido, metade do caminho em direcção a uma reforma verdadeiramente fecunda da nossa vida.»
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