“Os dois heróis de Cervantes são simplesmente as personagens literárias mais amplas de todo o Cânone Ocidental, excepção feita àquela tripla mão-cheia (no máximo) dos seus pares shakespearianos. A fusão que eles operam do ridículo, da sabedoria e da indiferença quanto à ideologia só consegue ser igualada pelos mais memoráveis homens e mulheres de Shakespeare. Cervantes naturalizou-nos, tal como Shakespeare o fez, de tal maneira que já não conseguimos descortinar o que é que torna Dom Quixote tão permanentemente original, uma obra tão penetrantemente estranha. Se o jogo do mundo ainda pode ser situado na maior literatura, então é aqui que ele tem de estar.”
[Harold Bloom, 0 Cânone Ocidental]
“Não nos rimos dele por muito tempo. As suas armas são a piedade, a sua bandeira a beleza, em todas as situações permanece… gentil, desamparado, puro, generoso e galante. A paródia torna-se um modelo ideal.”
[Vladimir Nabokov, em Leituras sobre o D. Quixote]
“Mas se o futuro não representa um valor a meus olhos, a quem me sinto eu ligado: a Deus? à Pátria? ao povo? ao indivíduo? A minha resposta é tão ridícula quanto sincera: não estou ligado a nada, excepto à herança desacreditada de Cervantes.”
“O romancista não tem contas a prestar a ninguém, excepto a Cervantes.”
[Milan Kundera, A Arte do Romance]
“Dom Quixote, Falstaff e Emma Bovary representam essas descobertas da consciência; criando-os, na iluminação recíproca do acto criador e do crescimento da coisa criada, Cervantes, Shakespeare e Flaubert chegaram literalmente a conhecer “partes” de si próprios antes insuspeitadas.”
[George Steiner]
“Não queria compor outro Quixote — o que é fácil —, mas “o” Quixote. Não vale a pena acrescentar que nunca encarou a possibilidade de uma transcrição mecânica do original; não se propunha copiá-lo. A sua admirável ambição era produzir umas páginas que coincidissem — palavra por palavra e linha por linha — com as de Miguel de Cervantes.”
[Jorge Luis Borges, “Pierre Menard, autor do Quixote”]
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