«Do nosso ponto de vista, se há falácia de raciocínio desconcertante entre todas no instinto moderno, dir-se-ia que é a ideia de que “os religiosos” e “os cientistas” estiveram desde sempre em guerra aberta. Esta guerra substancialmente imaginária, efabulada de forma superficial a partir de um número restrito de temas-chave como o geocentrismo, a Inquisição, o horror de aceitar que o homem descende do macaco, ou a crispação recente no domínio da manipulação de gâmetas e embriões, é hoje vista em grande medida como um combate entre o bem e o mal, com a ciência do lado da luz que procura o progresso e a religião do lado das trevas que tentam impedi-lo. Mas, para este cenário fazer qualquer espécie de sentido, era preciso que o nosso mundo sempre tivesse funcionado dentro de balizas de pensamento que só começaram a implantar-se a partir da segunda metade do século XIX.»
Da Introdução