«Mas na verdade Amélia só morreria quatro anos depois de Agustina ter contado a sua história, como se tivesse recebido de suas mãos o talento para a contar, interminavelmente, como tudo o que não é só nosso. E isso, o que o explica? Uma cólera? Uma vontade de a ver acabar, desaparecer da vida, onde já não tinha lugar? Porque o nosso lugar na vida tem muito pouco tempo. Às vezes, um dia basta para que se esgote o seu sentido, e seja belo. O resto são minutos de espera e de agonia. Entre Amélia e Agustina, há a uni-las um cordão de ouro, onde se suspende um coração com uma pomba e um nome inscrito. Foi destinado a Agustina, antes de nascer, como um presságio, uma oferenda de uma raiz de ouro. Dessa raiz cresceu uma vida, e uma obra grande e singular, que a engrinalda e eterniza. Só assim vale a pena a vida — se formos capazes de a eternizar.»
SOBRE A AUTORA:
Laura Mónica Bessa-Luís Baldaque nasceu no Douro, no lugar de Godim, Peso da Régua, a 13 de Maio de 1946. Concluiu o curso superior de Pintura na Escola Superior de Belas-Artes de Lisboa, em 1970, e enveredou pela carreira museológica.Tem uma vasta obra na pintura de retrato e de paisagem. A escrita surge como uma forma natural de unir um pensamento e duas linguagens — pintura e palavra. O Douro é sempre o imaginário inesgotável das suas reflexões e inspiração.
Entre outros livros, ilustrou Vento, Areia e Amoras Bravas, Dentes de Rato e Colar de Flores Bravias, de Agustina Bessa-Luís. Publicou Do Outro Lado do Quadro (Edições Asa, 2000), O Olhar do Lobo (Campo das Letras, 2003), A Folha do Limoeiro (Edições Asa, 2005), Pequeno Alberto, o Pensador (Ulisseia, 2010), Contos Sombrios (Ulisseia, 2011), Vinte anos na província (Sextante Editora, 2013) e A Raiz Vermelha do Amor (Ulisseia, 2015).