«Há nos melhores versos de Baudelaire uma combinação de carne e de espírito, uma mistura de solenidade, de calor e de amargura, de eternidade e de intimidade, uma raríssima aliança da vontade com a harmonia, que os distingue nitidamente dos versos românticos, como os distingue nitidamente dos versos parnasianos. O Parnaso não foi excessivamente terno para com Baudelaire.
Leconte de Lisle criticava-lhe a esterilidade. Ele esquecia que a verdadeira fecundidade de um poeta não consiste no número dos seus versos, mas bem mais na extensão dos seus efeitos. Só podemos julgar com o passar do tempo. Vemos hoje que a ressonância, passados mais de sessenta anos, da obra única e muito pouco volumosa de Baudelaire, preenche ainda toda a esfera poética, que está presente aos espíritos, é impossível de ignorar, reforçada por um número notável de obras que dela derivam, que não são imitações, mas consequências, e que seria pois necessário, para ser equitativo, juntar à delicada recolha das Flores do Mal diversas obras de primeira ordem, e um conjunto de investigações mais profundas e mais subtis como nunca a poesia empreendeu.»
Do Posfácio
de Paul Valéry