Tradução (do grego), introdução e notas: Marta Várzeas
“Na verdade, com a representação do confronto entre Antígona e Creonte, a peça ia ao encontro das preocupações de uma democracia em construção e suscitava problemas prementes acerca da relação entre governantes e governados, acerca da relação entre a lei e a justiça e, portanto, acerca dos próprios fundamentos da pólis, isto é, da vida em sociedade.
[…]
No imaginário do Ocidente, Antígona ficou para sempre como narrativa fundadora do despertar para uma certa consciência cívica e para a afirmação do indivíduo insubmisso perante a ameaça do poder autoritário e absoluto. E, no entanto, uma leitura atenta da tragédia mostra que a complexidade do que nela se joga — e quiçá a sua intemporalidade — tem que ver, antes de mais, com o facto de a oposição entre as duas principais figuras dramáticas não ser redutível a um debate de ideias, não ser tão-pouco redutível à esfera da ética ou da política. A marca trágica desse confronto insuperável tem raízes no ethos das personagens, isto é, no seu carácter, e numa demónica radicalização das suas vontades. É desta situação particular, na qual qualquer coisa de essencial acerca do humano se manifesta, que resulta a universalidade do drama sofocliano.” [Da Introdução de Marta Várzeas]
SOBRE O AUTOR:
Sófocles, nascido entre 497 e 496 a. C., foi um dramaturgo grego e um dos mais importantes escritores de tragédia, equiparável a Ésquilo e Eurípides.
Filho de um mercador rico, nasceu em Colono, perto de Atenas, durante o governo de Péricles, no apogeu da cultura helénica.
As suas peças retratam personagens nobres e da realeza. Nas tragédias, mostra dois tipos de sofrimento: o que decorre do excesso de paixão e o que é consequência de um acontecimento acidental, que considerava ser o destino.
Estima-se que tenha escrito 123 peças durante a sua vida, sendo que apenas 7 sobreviveram na sua forma integral.
Faleceu entre 406 e 405 a. C.