Tradução (do original): Gilda Lopes Encarnação
Amok é um termo retirado da cultura indonésia e significa «lançar-se furiosamente na batalha». As pessoas afetadas por este estado psíquico têm ataques de fúria cega e procuram aniquilar os que consideram seus inimigos e quem quer que se interponha no seu caminho, sem consideração pelo perigo que correm.
O narrador conta a sua viagem de Calcutá para a Europa a bordo do Oceania. Num passeio noturno na coberta do navio, encontra um médico preocupado e assustado e que evita qualquer contacto social. Este vai contar-lhe o que o levou a uma relação obsessiva por uma mulher que o colocou em estado de amok.
SOBRE O AUTOR:
Stefan Zweig nasceu em Viena em 1881, o mesmo ano em que nasceram Picasso e Béla Bartók. Era filho de um industrial e estudou História, Literatura e Filosofia.
O seu sucesso literário foi precoce, abrindo-lhe as portas da vida intelectual do seu tempo. Aos 17 anos escreve já em revistas modernistas e participa no movimento Jovem Viena. Uma recolha de textos seus, O Amor de Erika Ewald, surge em 1904.
Relacionou-se com Hermann Hesse, Thomas Mann, Arthur Schnitzler, Gorki e James Joyce. Na sua casa de Salzburgo recebeu compositores como Richard Strauss e Alban Berg. A sua correspondência com Freud, Rilke, Hofmannsthal, Rodin e Romain Rolland prolongou-se por muitos anos.
Influenciado pela estética vienense, capaz de compreender a inquietante estranheza da psicologia humana, Stefan Zweig explorou nas suas obras os dramas da paixão e a fragilidade dos sentimentos amorosos.
O ascenso do nazismo na Alemanha, a subida de Hitler ao poder em 1933 e a destruição das suas obras em Munique puseram fim a uma época agitada, mas para ele feliz.
Zweig é forçado a partir para a Grã-Bretanha, de onde viaja para o Brasil em 1936 e depois para Nova Iorque, tendo visitado Portugal em 1938. A 10 de setembro de 1939 escreve a Romain Rolland: «Não vejo qualquer saída para este terrível lamaçal.»
Regressa ao Brasil em 1940.
Em 1942 suicida-se com a mulher, Lotte, em Petrópolis, não longe do Rio de Janeiro.
Stefan Zweig praticou os mais diversos géneros literários, do romance ao teatro. Mas acabaria por se distinguir pelas novelas que escreveu (Amok, Carta de Uma Desconhecida, Uma História de Xadrez, Confusão de Sentimentos, Segredo Ardente, Vinte e Quatro Horas da Vida de Uma Mulher e A Mulher e a Paisagem), o ensaio (A Marcha do Tempo, Brasil: País de Futuro e Os Construtores do Mundo) e a biografia (Joseph Fouché, Maria Antonieta, Fernão de Magalhães, Triunfo e Tragédia de Erasmo de Roterdão e Maria Stuart).
Em todos os géneros procurou detetar as forças do irracional no coração da natureza humana. Nunca elaborou, contudo, um sistema ensaístico próprio. Entregou- se mesmo a uma certa dispersão em que de comum existe apenas a melancolia e uma lúcida visão humanista.
As suas memórias, O Mundo de Ontem, de 1942, terminam com uma frase significativa: «Mas, em última análise, cada sombra é também filha da luz, e só aqueles que experimentaram a luz e as trevas, a guerra e a paz, a ascensão e a queda viveram verdadeiramente.»