«Tenho a certeza de que tanto a autora como a personagem pensavam como eu. A sinceridade é absoluta. Aquele que escreve contém-se em atenção àquele que lerá aquelas linhas, que por isso mesmo não podem brilhar demasiado com o fulgor de uma revelação íntima. Pareceria mal; seria impróprio; iria suscitar o embaraço de quem entrevê um segredo por detrás de uma porta mal fechada e depois não sabe se deve fingir que não viu nada. Que alívio, ser poupado às confissões imperfeitas da prima do campo. Basta saber que ela escrevia — sempre sentada, com o caderno de notas no regaço, esquecendo-se de acender a luz da sala até perceber, espantada, que tinha deixado de conseguir ler as próprias palavras.»
SOBRE O AUTOR:
Alexandre Andrade reside em Lisboa, onde nasceu em 1971. É professor na Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa. Publicou Aqui Vem o Sol (Quasi, 2005) e as recolhas de contos As Não-Metamorfoses (Errata, 2004) e Quartos Alugados (Exclamação, 2015). Na Relógio D’Água editou O Leão de Belfort (2016), Benoni (2016), Cinco Contos sobre Fracasso e Sucesso (2017), Descrição Guerreira e Amorosa da Cidade de Lisboa (2017), que obteve o Prémio PEN Clube de Narrativa 2017, e Todos Nós Temos Medo do Vermelho, Amarelo e Azul (2019). Colaborou nas revistas aguasfurtadas, Ficções, Granta e LER, entre outras. Participou nas recolhas de contos Mosaico (Editorial Escritor, 1997) e Onde a Terra Acaba/From the Edge (ULICES/CEAUL/101 Noites, 2006), e ainda na edição de 2007 da iniciativa PANOS — palcos novos palavras novas com a peça Copo Meio Vazio (Culturgest, 2007). É autor do blogue umblogsobrekleist (umblogsobrekleist.blogspot.pt) e co-autor do blogue Cinéfilo Preguiçoso (cinefilo preguicoso.blogspot.pt).