«Como muito bem viu Jean Genet, há um litígio insuperável entre estética e história. A primeira configura-se a partir do reduto secreto que constitui cada ser (seja rosto ou quadro) e só ela lhe pode fazer justiça (Baudelaire chama-lhe “soluço ardente”). Sendo assim, é preciso fazer uma dieta rigorosa do histórico enquanto descrição de “como se passaram as coisas”. Desse modo ganha-se uma visão inédita do contemporâneo — para a qual “Les Phares” aponta inequivocamente e que o conceito benjaminiano do “agora da cognoscibilidade” formaliza —, a simultaneidade possível de todas as obras de arte passadas com o presente e a transformação das obras do presente em oferendas funerárias ao grande povo dos mortos: eles um dia também foram vivos.»
Do capítulo «Um Soluço Ardente»
Rebuçados Venezianos é constituído por textos sobre a obra de alguns artistas contemporâneos e sobre questões de crítica e história de arte, redigidos entre 2000 e 2016. O título é uma homenagem à pintora Luísa Correia Pereira.