SOBRE O LIVRO:
«Ao meu neto Adrien Pagano. Como prova de reconhecimento por tudo o que ele me trouxe.» Eis a dedicatória de Não Te Esqueças de Viver, pressentimento da morte e tributo da velhice à infância. No subtítulo Goethe e a Tradição dos Exercícios Espirituais acha-se a fonte de entendimento de toda a obra. Agora que o filósofo se está a despedir da vida, regressa ao poeta por quem sempre se interessou e reúne os despojos — artigos dispersos — da felicidade, a deusa das pessoas vivas, como Goethe lhe chama. É assim que Não Te Esqueças de Viver se torna ao mesmo tempo testamento e preparação para a morte. À pergunta de Agostinho: «pode o homem ser feliz e mortal?», responde Clarice Lispector: «amar a vida mortal, isso é a felicidade». Na tensão criada por esta pergunta e por esta resposta inscrevem-se os exercícios espirituais encontrados por Pierre Hadot em Goethe, prolongados em Nietzsche e confirmados nos filósofos gregos e latinos, em particular, estóicos e epicuristas.
[Maria Filomena Molder]
SOBRE O AUTOR:
Pierre Hadot (1922–2010) foi filósofo e historiador da Filosofia, especializado no período helenístico. Dirigiu a École des hautes études en sciences sociales e foi professor no Collège de France, tendo introduzido o estudo de Wittgenstein em França e influenciado pensadores como Michel Foucault. Hadot defende que a interpretação das obras da Antiguidade Clássica requer uma modificação da perspectiva, devendo consistir na prática de exercícios espirituais, já que a Filosofia era então um modo de vida. Para ele, na Antiguidade Clássica, a Filosofia não era apenas uma abordagem teórica, mas um método de desenvolvimento que permitia abranger o mundo sob uma nova concepção.