Charles Dickens

“Em Oliver Twist, Hard Times, Bleak House e Little Dorrit, Dickens atacou as instituições inglesas com uma ferocidade que desde então nunca mais voltou a ser igualada. Ainda assim, foi capaz de fazê-lo sem se tornar alvo de ódio, e, mais importante ainda, as próprias pessoas que atacou assimilaram-no tão completamente que ele próprio acabou por se tornar uma instituição nacional. […] A ação principal das histórias de Dickens ocorre quase invariavelmente em ambientes de classe média. Se analisarmos ao pormenor os seus romances, percebemos que o seu verdadeiro tema é a burguesia comercial londrina e todos os seus sequazes — advogados, escrivães, negociantes, estalajadeiros, pequenos fabricantes e criados. […] A verdade é que a crítica que Dickens faz à sociedade é quase exclusivamente de ordem moral. Daí a total ausência de propostas construtivas na sua obra. Ele ataca a lei, o governo parlamentar, o sistema educativo e por aí adiante, tudo isto sem avançar alternativas claras para os mesmos. Claro que não cabe necessariamente ao romancista ou ao satirista fazer sugestões construtivas, mas a questão é que, no fundo, a postura de Dickens não chega sequer a ser destrutiva.”

SOBRE O AUTOR:
Nascido em Junho de 1903, no início de um século marcado por duas guerras mundiais, o estalinismo e o nazismo, George Orwell resume na sua obra os sonhos e pesadelos do mundo ocidental nesse período. Nasceu Eric Arthur Blair em Motihari, na Índia Britânica. O pai era um funcionário subalterno inglês e a mãe tinha origem francesa. Após o regresso dos pais a Inglaterra, estudou numa escola na Henley-on-Thames, onde se distinguiu pela relativa pobreza e pelo brilhantismo intelectual. Frequentou depois duas importantes escolas inglesas, Wellington e Eton College, onde teve como colegas Cyril Connolly e Anthony Powell. Aldous Huxley foi seu professor. Mais tarde Orwell resumiu essa experiência como “cinco anos num banho tépido de snobismo”. Mas foi nessa época que conheceu duas obras que o influenciaram, A Ilha do Doutor Moreau, de H. G. Wells, e O Tacão de Ferro, de Jack London. Ao abandonar Eton, decidiu não ir para Oxford e entrar na polícia birmanesa, embarcando para as Índias. Nos cinco anos que se seguiram, descobriu a realidade do imperialismo e recolheu material para Dias Birmaneses e para ensaios tão originais como “Matar Um Elefante” e “Um Enforcamento”.
Regressado à Europa, frequentou os bairros pobres de Londres, instalando-se em Paris na Primavera de 1928. Atingido por uma pneumonia, foi internado num hospital, cujas condições terríveis inspiraram o ensaio “Como Morrem os Pobres”. A convivência com os pobres e os vagabundos forneceu-lhe material para Na Penúria em Paris e em Londres, que publicou em 1933 com o pseudónimo George Orwell. Em 1936, o Left Book Club propôs-lhe escrever um livro sobre as condições dos operários no Norte do país. Partilhou a vida dos mineiros e confirmou as suas convicções socialistas. Escreveu numerosos artigos numa abordagem que considerava “semi-sociológica”, casou com Eileen O’Shaughnessy e correspondeu-se com Henry Miller, que apreciava a sua obra e ironizava com o seu idealismo. Em 1937, decidiu combater em Espanha ao lado dos republicanos, mas, em vez de se juntar às Brigadas Internacionais, ingressou na milícia do POUM, um grupo marxista heterodoxo, lutando na frente de Aragão. Foi ferido, assistindo na convalescência à eliminação pelo Partido Comunista, apoiado pela URSS, das milícias anarquistas e do POUM. Descreveu essa experiência em Homenagem à Catalunha (1938), que lhe valeu inúmeras calúnias.Em 1939, começou por se opor à participação da Grã-Bretanha na guerra, mas depressa se voltou contra os pacifistas, acusando-os de fazerem o jogo de Hitler. A partir de 1940, fez crítica teatral e de cinema, colaborou na Partisan Review e escreveu notáveis ensaios literários sobre Dickens, Tolstoi e Shakespeare. Em 1942-43, trabalhou para o serviço indiano da BBC, uma experiência que acabaria por o decepcionar. Em 1945, publicou Rebelião na Quinta, que, com Mil Novecentos e Oitenta e Quatro, seria um libelo contra o totalitarismo estalinista que ameaçava a Europa. Em Junho de 1944, o seu apartamento foi destruído nos bombardeamentos de Londres. Em 1945, após a derrota de Hitler, foi correspondente do Observer em França e na Alemanha. Foi nesse período que a sua mulher faleceu durante uma operação. Em 1948, terminou Mil Novecentos e Oitenta e Quatro, escrito ao longo de vinte e sete meses, marcados por internamentos em sanatórios por causa da tuberculose. Em Outubro de 1949, casou com Sonia Brownell. Morreu no ano seguinte. Tinha 46 anos.

Obras do autor: